domingo, agosto 26, 2007

Modus Vivendi

Existem aqueles que chegam ao lar, após um dia de trabalho, e a preocupação que os guia é a de se inteirarem das últimas notícias voyeuristas, parecendo que a própria vida deixou de os poder saciar e preencher e só o facilitismo e o degradante persistem em valer.
Existem os outros que regressam de espírito revirado, Senhores da Verdade, vítimas de todo e qualquer facto e nobres signatários da incompreensão e do império da máscara de ferro e não raras vezes cheios de palavras de condenação, acabando por serem eles os infelizes arguidos do seu próprio julgamento.
Existem os definhados em ideias e sonhos, que pelo pouco que dizem e pelo menos que fazem tentam convencer-se que são insubstituíveis e cruciais ao seu redor. Preferem quase sempre manter-se na dúvida do que desiludirem-se com a realidade e ao ambicionarem a macro transformação se perdem e se cegam, inábeis em mudar o mais simples e próximo que deles vive.
Existem, porém, aqueles outros que às vezes se declaram impotentes mas que se mantêm na teimosa trilha de se desacomodarem e de, por exemplo, ligarem para as entidades responsáveis chamando a atenção da carrada de horas que os candeeiros da rua permanecem despropositadamente acesos, à mera berma da estrada imprópria para peões, o monte de areia de uma obra finda que ninguém se lembra já de ter existido e que rouba os poucos lugares de estacionamento ainda existentes.
Todos somos um pouco disto tudo, mas só alguns têm o privilégio de conviverem junto de um certo modus vivendi rarefeito.  

Anita
(27/05/05)